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terça-feira, 24 de junho de 2014

NOSFERATU (1922)


* Texto originalmente publicado em Clica & Critica

Embora Bram Stoker não tenha sido o precursor do vampirismo na literatura, é inegável que foi o seu famoso romance “Drácula” que universalizou, por assim dizer, a figura popular do vampiro, que seria mais tarde abordada incansavelmente, não apenas no papel, mas nas telas também. Coube ao cineasta alemão F. W. Murnau a primeira adaptação da obra de Stoker no longínquo ano de 1922; adaptação essa que é considerada icônica e quase por unanimidade a melhor de todos os tempos, não necessariamente no quesito fidelidade (até porque os direitos autorais não cedidos impediram um aproveitamento maior da história), mas em relação apropria abordagem do vampirismo no cinema.



Utilizando-se com inteligência e perícia dos poucos recursos disponíveis para seu tempo, Murnau conseguiu a façanha ímpar de criar todo um universo sombrio que equilibra tons de sombra e luz bem ao estilo expressionista, em voga na época. De fato, o clima gótico da obra de Stoker é referenciado constantemente nesse jogo de claro/escuro que alterna momentos de tensão e melancolia com maestria, se levarmos em conta o fato de que esta é ainda uma produção em preto e branco, bastante “tosca” para os padrões cinematográficos evoluídos de hoje em dia. Ainda assim, tamanho é o poder de “Nosferatu” que é impossível ficar indiferente às imagens e cenas construídas na justaposição da luz, como, por exemplo, no momento em que  a sombra ameaçadora do vampiro, esgueirando-se pela parede, aproxima-se da mulher cujo sangue ele precisa provar.


A representação do vampiro encarnado por Max Schrek é, com certeza, uma das mais célebres e assustadoras já vistas: careca, curvado, com dentes pontiagudos e projetados para fora da boca, unhas compridas e sobrancelhas espessas; visualmente repulsivo, Schrek adiciona à sua imagem uma interpretação inspirada, onde suas expressões faciais, oscilando entre a malignidade a tristeza, conferem ao personagem a essência do Drácula do livro. Essas variações na expressividade dos personagens são de fundamental importância no desenrolar do filme, uma vez que não há diálogos – é um filme mudo. Assim como nas obras de Chaplin, é a linguagem gestual/facial que determina a intensidade de sentimentos, sensações e anseios dos personagens, aqui convenientemente captados e transmitidos por
Murnau.



Por fim, há que se destacar a excelente e tétrica trilha sonora de Hans Erdmann, que preenche a projeção com seus tons sombrios, sempre deixando subentendido que algo está prestes a acontecer, mantendo o espectador em crescente – mas, receosa – tensão. Com a música, completa-se a atmosfera espectral do filme, justificando-se com perfeição o subtítulo de “Eyne Symphonie des Grauens”: de fato, é uma sinfonia de horror magistral.


**É possível ver este filme completo, restaurado e legendado no Youtube, através DESTE LINK.


Um comentário:

  1. Esse filme me faz imaginar muitas coisas sinistras? Será que o conde Orlok existiu? Acho que para as loucuras e mistérios do mundo antigo, tudo é possível. TUDO!

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