Embora Bram Stoker não
tenha sido o precursor do vampirismo na literatura, é inegável que foi o seu
famoso romance “Drácula” que universalizou, por assim dizer, a figura popular
do vampiro, que seria mais tarde abordada incansavelmente, não apenas no papel,
mas nas telas também. Coube ao cineasta alemão F. W. Murnau a primeira
adaptação da obra de Stoker no longínquo ano de 1922; adaptação essa que é
considerada icônica e quase por unanimidade a melhor de todos os tempos, não
necessariamente no quesito fidelidade (até porque os direitos autorais não
cedidos impediram um aproveitamento maior da história), mas em relação apropria
abordagem do vampirismo no cinema.
Utilizando-se com inteligência
e perícia dos poucos recursos disponíveis para seu tempo, Murnau conseguiu a
façanha ímpar de criar todo um universo sombrio que equilibra tons de sombra e
luz bem ao estilo expressionista, em voga na época. De fato, o clima gótico da
obra de Stoker é referenciado constantemente nesse jogo de claro/escuro que
alterna momentos de tensão e melancolia com maestria, se levarmos em conta o
fato de que esta é ainda uma produção em preto e branco, bastante “tosca” para
os padrões cinematográficos evoluídos de hoje em dia. Ainda assim, tamanho é o
poder de “Nosferatu” que é impossível ficar indiferente às imagens e cenas
construídas na justaposição da luz, como, por exemplo, no momento em que a sombra ameaçadora do vampiro, esgueirando-se
pela parede, aproxima-se da mulher cujo sangue ele precisa provar.
A representação do
vampiro encarnado por Max Schrek é, com certeza, uma das mais célebres e
assustadoras já vistas: careca, curvado, com dentes pontiagudos e projetados
para fora da boca, unhas compridas e sobrancelhas espessas; visualmente repulsivo,
Schrek adiciona à sua imagem uma interpretação inspirada, onde suas expressões
faciais, oscilando entre a malignidade a tristeza, conferem ao personagem a
essência do Drácula do livro. Essas variações na expressividade dos personagens
são de fundamental importância no desenrolar do filme, uma vez que não há
diálogos – é um filme mudo. Assim como nas obras de Chaplin, é a linguagem
gestual/facial que determina a intensidade de sentimentos, sensações e anseios
dos personagens, aqui convenientemente captados e transmitidos por
Por fim, há que se
destacar a excelente e tétrica trilha sonora de Hans Erdmann, que preenche a
projeção com seus tons sombrios, sempre deixando subentendido que algo está
prestes a acontecer, mantendo o espectador em crescente – mas, receosa –
tensão. Com a música, completa-se a atmosfera espectral do filme,
justificando-se com perfeição o subtítulo de “Eyne Symphonie des Grauens”: de
fato, é uma sinfonia de horror magistral.
**É possível ver este filme completo, restaurado e legendado no Youtube, através DESTE LINK.
Esse filme me faz imaginar muitas coisas sinistras? Será que o conde Orlok existiu? Acho que para as loucuras e mistérios do mundo antigo, tudo é possível. TUDO!
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