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quarta-feira, 25 de junho de 2014

O MÉDICO E O MONSTRO (1932)




A década de 1930 pode ser considerada uma era de ouro para o cinema de terror/suspense. Foi nessa década que vieram à luz alguns dos maiores clássicos desse gênero: “Drácula”, de Tod Browning, “Frankenstein”, de James Whale e, claro, este “O médico e o monstro” (“Dr. Jekyll and Mr. Hyde”), de Rouben Mamoulian.
Uma das primeiras versões cinematográficas da célebre novela de R. L. Stevenson (para informações sobre o livro, acesse ESTE LINK), o filme de Mamoulian possui uma grande carga de elementos diretamente herdados do cinema mudo, como o apelo visual a imagens específicas e até as atuações um tanto caricatas, repletas de trejeitos exagerados em certos momentos, uma clara tentativa de acentuar a dramaticidade das cenas. Ainda que para os padrões ‘modernos’ esses elementos soem um pouco antiquados ou artificiais, consolidaram-se como características icônicas de muitos atores daquela época.


Em termos de fidelidade à obra literária original, o filme não se concentra necessariamente em seguir aquele roteiro à risca, permitindo-se muitas liberdades criativas, mas, felizmente, preservando a essência crítica – e assustadora – do livro. De fato, nesse aspecto chegou até a ser indicado ao Oscar de Melhor roteiro adaptado, o que decerto ajudou a construir o status de clássico cult que o filme possui hoje.
Como na obra escrita, o filme aborda a história do Dr. Jekyll (Fredric March), um típico cavalheiro londrino, rico, bem-apessoado e solteiro, o que simbolicamente é uma representação genérica do que, segundo a sociedade vitoriana da época, era um modelo de virtude, bondade e moral. Entretanto, como é o foco do filme, o ser humano não se constitui apenas de um “lado bom”. March demonstra um domínio fantástico do personagem, encarnando perfeitamente o lado humano do doutor. Contudo, é na transposição do “lado mau”, isto é, do monstro interior que vem à tona após uma malfadada experiência que March se destaca definitivamente ao dar vida ao terrível Mr. Hyde, numa interpretação tão perversa e alucinada que lhe rendeu com muita justiça o Oscar de Melhor ator.


A ambientação de Londres ficou bastante convincente, das tomadas externas às internas. Entre estas, destacam-se as cenas nas quais Jekyll está trabalhando em seu laboratório na tentativa de criar um experimento químico que isole as essências duais do ser humano, não só remetendo diretamente ao livro de Stevenson, como também evidenciando o cuidado com a construção desta história de terror, com ótima fotografia, edição, som e até alguns efeitos especiais obsoletos e toscos, mas que funcionaram muito bem considerando-se a data da produção. É muito interessante ver que houve até espaço para o desenvolvimento psicológico dos personagens, como a ênfase na dualidade atormentada de Jekyll e Hyde.


Ao fim, o filme não se torna memorável por ser a adaptação mais fiel ao livro, mas por ser uma das que melhor e com mais inteligência sabem aproveitar a tensão e a abordagem crítica, perturbadora e atemporal do clássico literário que lhe deu origem.


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